“Todo o sonho deve ser sonhado”
Alex
Guenther é um profissional das histórias em quadrinhos, nascido Alex Leonardo
Guenther em Blumenau, Santa Catarina, em 16 de abril de 1978. Casado com Sheila
Vital Guenther, é pai de Arthur Vital Guenther. No seu currículo, há histórias
em quadrinhos e graphic novels sobre a história de Blumenau e região. Nesta
entrevista, ele fala sobre seu processo de criação e de seu entusiasmo pelo
trabalho artístico.
Há
na tua família outros artistas que produzem histórias em quadrinhos?
Não, apenas eu segui
esse caminho, apesar de muitos parentes seguirem a vertente do desenho ligado a
área artística ou publicitária.
Quando
começou teu interesse pelos quadrinhos e o que te levou a acreditar que esta
poderia vir a se tornar a tua profissão?
Comecei a ler histórias
em quadrinhos muito cedo, antes mesmo de ir para a escola. Meu interesse pela
mistura de desenhos e a história, juntando ao seu colorido impactante, teve
grande influência para que eu preferisse este tipo de arte. Após terminar a
faculdade, tinha a pretensão há muito tempo de lançar uma história em
quadrinhos. Quando lancei “O Desbravador, a Fundação da Colônia Blumenau” (2003),
viabilizada através do Funcultural de Santa Catarina, teve uma enorme
repercussão no estado. Naquela época, pouquíssimas pessoas estavam fazendo
resgate histórico através dos quadrinhos. Percebi um nicho a ser desenvolvido e
lancei muitas outras revistas depois. Fui me profissionalizando com o tempo,
com a experiência adquirida em cada trabalho desenvolvido.
De
onde vem a inspiração para a criação das tuas tramas e personagens? Há casos
nos quais eles são personagens da história contemporânea de Blumenau e região?
A maioria dos
personagens desenvolvidos são históricos, como Dr. Blumenau, Edith Gaertner,
entre outros. Então, tive que me conter às suas personalidades, procurei seguir
os relatos que li a respeito de cada um deles. Sempre que possível, utilizei
sátiras, pois gosto de histórias bem humoradas. Entre vários roteiros que
desenvolvi e ainda não criei para outras revistas, utilizo como referência
estereótipos de filmes antigos de todos os gêneros.
A
ideia de produzir a revistas próprias surgiu quando?
Desde a minha primeira
revista, já tinha noção da dificuldade da produção de uma publicação independente.
Todo o processo de comercialização e distribuição. Existiam na época e ainda
hoje existem muitos entraves para todo esse processo. Decidi que histórias
histórico-culturais poderiam ser mais facilmente apoiadas por leis de incentivo
à cultura e mais facilmente distribuídas pelos colégios e prefeituras. Sendo
assim, pesquisei o assunto e vi algumas oportunidades que surgiram através das
leis. Desenvolvi trabalhos somente com esse foco por algum tempo.
Alguém
te ajudou na formatação ou foi tudo criação própria?
Sempre realizei todo o
processo sozinho. Desde a pesquisa até a montagem final para impressão. Em
algumas revistas, contei com revisão histórica e ortográfica, sempre necessárias.
Como
foi a reação dos primeiros patrocinadores que receberam tua visita em busca de
apoio para publicar tuas criações?
Em 2001, comecei a
desenvolver revistas em quadrinhos independentes com apoio privado, com inserções
de material publicitário na revista. Foi assim com as três revistas “Catacomics”,
desenvolvidas pelo primeiro coletivo de artistas catarinenses e nas duas
revistas que tratam da “História da Cerveja”, as quais desenvolvi nos anos de
2014 e 2015. Muitos empresários viam com bons olhos a iniciativa, pela inovação
e até mesmo pelo desconhecimento de uma nova mídia. Mas alguns viam com
desconfiança, achando que talvez fosse qualquer coisa sem importância para
ninguém. Como sempre, apareci muito na mídia por causa dos projetos anteriores,
e isso sempre ajudou muito para a viabilização dos projetos seguintes: pela
segurança passada pelo fato de o assunto ter uma comprovação prévia.
A
produção de uma revista ou de uma série de revistas em quadrinhos demanda mão
de obra especializada. Com quem pudesses ou ainda podes contar, neste processo
de criação?
Sempre desenvolvi tudo
sozinho. É uma área em que o conhecimento deve estar alinhando. São muitas
disciplinas a serem empregadas – desenho, roteiro, enquadramento, arte final,
colorização. Muitos amigos realizam o trabalho sozinho, porém quando possuem
uma equipe o trabalho flui melhor em todas áreas. Em muitos casos, fiz parceira
com o texto e roteiro, ficando encarregado apenas das ilustrações.
Quantas
e quais são as revistas em quadrinhos produzidas por ti, e de que temas elas
tratam?
“O Desbravador, a
fundação da colônia Blumenau” (2003) fala sobre a origem da colônia de
Blumenau. “Vale dos Imigrantes” (2004) trata sobre a colonização do Vale do
Itajaí pelos italianos. “Conhecendo o Museu da Família Colonial” (2004) trata
sobre a vida de Edith Gaertner, sobrinha neta do Dr. Blumenau que viveu na casa
onde hoje é o Museu de Blumenau. “Oktoberfest, Origens e Tradições” (2006)
trata sobre a origem das Oktoberfest de Munique e Blumenau e tradições
germânicas dos clubes de caça e tiro. “Apae 45 anos: do sonho à realidade” (2010)
foi produzida para a Apae de Blumenau, contando tudo sobre seus 45 anos de
história.
“Os Xokleng” (2010) narrada
graficamente como uma novela, apresenta a história com personagens variados, contando
vários trechos importantes sobre a população indígena de Santa Catarina. “Catacomics,
quadrinhos independentes”, coletânea de histórias desenvolvida sempre por seis artistas
da região, teve três revistas desenvolvidas de 2011 a 2012.
“Jóias para o Führer” (2012),
em parceira com o escritor Fernando Henrique Becker e Silva, narra em uma novela
gráfica a lenda dos túneis secretos que passam pelo centro de Blumenau,
ambientada na época do nazismo. “A história da cerveja no mundo e em Blumenau”
(2012, viabilizada em 2014) conta as origens da cerveja no mundo e sobre os
primeiros cervejeiros blumenauenses, pioneiros nacionais. “A saborosa
empreitada da cerveja pelo mundo” (2014) trata sobre o mercado atual
cervejeiro, mostrando o advento das cervejarias artesanais e sobre processos de
fabricação e estilos de cerveja.
Qual
o significado e a importância destas produções para o artista Alex?
Todas as histórias têm
sua importância. Não somente para mim, como artista, que aprendi e evoluí com
cada uma delas, seja na pesquisa mais apurada, num roteiro mais específico ou num
desenho melhor acabado – como também para a sociedade, que se beneficia de um
trabalho voltado para a educação e para o resgate cultural das tradições da
nossa região.
Fizeste
incursões pela história de Blumenau e região através dos quadrinhos. Como foi
esta experiência? Há outros projetos sendo preparados nesta linha?
É sempre muito rica e
proveitosa a experiência de trabalhar com quadrinhos históricos. Através de sua
produção, se conhece a fundo a história de seus antepassados e fundadores, e
todas as dificuldades que eles passaram. Vez ou outra, sou cogitado para
produção de quadrinhos nessa área por outros profissionais dos setores cultural
e histórico. No momento, estou para começar uma nova revista sobre a população
indígena de uma cidade de Santa Catarina.
Há
escritor que escreve todos os dias, há pintor que pinta todos os dias... Mas, e
o Alex, também produz todos os dias? Como é a tua "rotina" (se é que
existe uma na tua vida de autor / criador / editor) quando o assunto é produção
de quadrinhos?
Já houve tempo em que
eu conseguia desenhar 3 horas por dia, o que é fundamental para se ter um traço
solto e bem acabado. Mas as diversas obrigações me fazem desenhar mais aos
finais de semana e nas horas vagas. Quando tenho um projeto a desenvolver, aí
sim é preciso focar no design de personagens e desenhá-los constantemente afim
de fazê-los até de olhos fechados!
O
que tens a dizer a um(a) artista principiante na tua área de atuação que esteja
lendo esta entrevista? Valem os esforços? Vale o sonho?
Todo o sonho deve ser
sonhado. Se acredita e gosta do que se faz, vale a pena investir num sonho!
Do
universo das histórias em quadrinhos, quais os artistas que mais te agradam ou
que eventualmente tenham te inspirado nas tuas produções?
Tem um artista em
especial da qual gosto muito, o nome dele é Scott Campbel, que mistura
quadrinhos com desenho animado em seu layout. Tenho muita admiração pelo
traçado de suas obras, ricas e envolventes. Brasileiros, gosto muito do Ed
Bennes, Ed Barrows e Danilo Beiruth que fazem enorme sucesso mundo afora.
Reportagem veiculada dia 27/05/2016